O relacionamento entre doente e cuidador

Relações e personalidades no tratamento contra o câncer

O relacionamento entre doente e cuidador por vezes podem ser muito difíceis. Depressão e ansiedade são situações muito comuns para quem enfrenta tratamentos longos como aqueles contra o câncer, e essas perguntas são comuns: depressão causa câncer? Ansiedade causa câncer? Existem pesquisas nesse sentido depois do conhecimento sobre a epigenética.

O que é isso? A epigenética estuda se a influência do meio em que as pessoas vivem ou se o quê fazem, podem gerar alterações no seu DNA causando doenças como o câncer. Assim, emoções como raiva, ansiedade, tristeza etc produzem substâncias que poderiam atuar sobre o próprio DNA causando a doença.

No entanto, independentemente dessas possibilidades, que ainda estão muito no campo das hipóteses, a rotina do tratamento por si só é capaz de gerar ansiedade e depressão em qualquer um:….marca exame, faz exame, marca consulta, espera consulta, faz consulta, aplica remédio, expectativa no resultado de exame, não pode comer isso, não pode fazer aquilo….por meses, anos !!!  Portanto, realmente precisa ter força e disciplina muito grandes para não desenvolver esses transtornos: ansiedade e depressão, como também sensatez pra reconhecer suas vulnerabilidades e procurar ajuda quando perceber que suas emoções não estão normais.

 

“Problemas de ansiedade/personalidade: todos sofrem”

Os transtornos de ansiedade e depressão trazem uma série de problemas: pro doente, pro cuidador no dia-dia e pra equipe de saúde!

– Pro doente porque interfere de forma muito negativa no tratamento: dores de difícil controle que não melhoram com nenhum remédio, falta de apetite, insônia, desistência do tratamento (suicídio indireto).

– Pro cuidador: pode sofrer pelo distrato, falta de respeito, de educação e rispidez por parte do doente, pode se tornar um “escravo” a depender da personalidade da pessoa doente e por último, também pode ficar doente, depressivo e sente-se impotente diante dos problemas;

– Equipe de saúde: quem gosta de ser mal-tratado? de ser explorado? humilhado? NINGUÉM. Porém, algumas pessoas tentam justificar esses comportamentos porque está doente. É o famoso “benefício secundário da doença”  que a psicologia explica poder ser consciente ou inconsciente: consciente devido à personalidade, feita de forma proposital, de má fé; inconsciente: sem querer, de forma despropositada. Fato comum vermos cuidadores, enfermeiros, médicos pedirem para sair do caso, ou não querer ajudar aquela pessoa, ou trabalhar com essa ou aquela família por se sentirem sobrecarregados, distratados ou humilhados. Ou seja, assim como o paciente procura o profissional que melhor se adapta, o inverso também ocorre!….e pior: o paciente ou aquela família ficaconhecido (a) na instituição pelo seu comportamento e ninguém faz muita questão de atender ou tentar resolver o problema.

“Personalidade ou Doença?”

É comum escutarmos “ah ele é assim mesmo, sempre foi assim”. A questão é saber se essa personalidade prejudica ou não. Isso pode dar idéia se estamos diante de alguém difícil, alguém doente, ou uma pessoa difícil doente. Mesmo reconhecendo que estamos diante de alguém doente, devido à sua personalidade ele pode não aceitar a condição de estar passando por um processo de ansiedade, depressão ou de negando a doença (comportamento em que a pessoa não acredita estar doente, acha impossível, ou que estão mentindo pra ela e todos estão errados no seu diagnóstico). Essa é uma situação muito problemática devido à personalidade manipuladora da pessoa, e pra quem cuida no dia-a-dia é um grande desafio, pois só com muito amor e paciência será possível lidar com ela.

Nesses casos, talvez seja necessário uma atitude mais firme e ao mesmo tempo sensível da parte de quem cuida, uma habilidade que ninguém ensina, mas é possível aprender. É preciso que essa pessoa entenda que todos ao seu redor têm deveres diferentes, mas nenhum deles inclui servidão e falta de respeito. Se este tipo de pessoa perceber que “pode tudo com o cuidador”, certamente ela abusará da relação. Somente um relacionamento entre doente e cuidador, de forma harmonioza, poderá trazer boa convivência e resultados que todos querem.

– Certa vez fui procurado para avaliar um caso de uma paciente que só tinha uma filha. A filha tentava fazer de um tudo pela mãe, mas a mãe demonstrava muita revolta contra a doença, contra a vida. Nitidamente percebi no semblante daquela mulher tristeza e sofrimento. Dizia não estar nem aí pra ela mesma, pra doença nem pra ninguém. Depois que ela pôs pra fora, eu tomei coragem e disse: “é um direito seu não querer fazer nada e eu até entendo: é seu corpo, sua vida. Mas não estar nem aí, fazendo pouco caso das pessoas que amam você, é muito egoísmo! Só os egoístas fazem isso. Porque se ficar doente, alguém terá que cuidar: dar de comer, limpar, ficar levando e trazendo de hospital…, e se morrer, quem ficar, também ficará mal, sofrendo, sentindo a sua ausência, talvez até fique doente também, ou fique endividado, ou até perca o emprego por alguém que não deu a mínima para o seu esforço.”

– Eu pensei assim: é agora que eu levo um tapa na cara! mas elas saíram da sala naquele dia e pra minha surpresa ela retornou, resolveu tratar, a relação com a filha também melhorou e ficamos amigos (…) é claro que só se expõe quem quer ajudar, porque quando não se importa basta não falar nada e deixar pra lá.

Não sei se você que está lendo este artigo é paciente ou cuidador, mas seja qual for o lado que você esteja saiba que a caridade é uma via de mão dupla: de quem cuida para o doente, e do doente para quem cuida! Não permita que bons profissionais e bons amigos se afastem de você. Não permita que pessoas de personalidade difícil doente façam de você um escravo e te deixem doente também. Às vezes uma ou várias conversas às claras são necessárias para que o relacionamento entre doente e cuidador fique equilibrado. Essas problemáticas são muito comuns durante tratamentos longos de doenças como o câncer e espero que você tenha aproveitado essa discussão para refletir como tem agido seja você o doente ou quem cuida.

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